terça-feira, 23 de julho de 2013

Morte e vida severnina



Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, conta a história de Severino, um retirante como muitos outros que vivem na caatinga dos sertões de Pernambuco e do Brasil e, como não conseguirem lavrar a terra, ter trabalho e evitar a fome, resolvem deixar o sertão. O retirante se apresenta como Severino da Maria do Zacarias, lá  da serra da Costela, limite da Paraíba, explica o que significa “morte e vida severina”, a morte que alcança o sertanejo desde o momento em que ele nasce ou até mesmo antes, e o que o faz chegar apenas ao limite dos trinta anos.
Severino decide deixar sua terra natal e seguir até o Recife percorrendo as margens do rio Capibaribe, passando por algumas cidades e povoados que há à beira do rio. No seu caminhar o retirante resolve parar em algumas cidades para descansar e conseguir algum trabalho provisório e com isso ter o que comer, porém no seu caminho só encontra miséria e morte, a vida severina é a vida difícil do retirante, pois, além da miséria, a morte também o espera. Não encontrando trabalho que coubesse no seu oficio, Severino decide partir logo para Recife, mas ao chegar a Zona da Mata, de verdes canaviais e terras férteis, não encontra ninguém, apenas morte e desespero. Ainda na Zona da mata Severino assiste ao enterro de um lavrador que na vida nada teve e que morre sem nada deixar.
Severino decide se apressar e chegar logo ao Recife. Na capital, o retirante explica o motivo pelo qual resolveu retirar-se da caatinga, dizendo que de forma nenhuma pensou na cobiça, mas sim, em uma vida melhor. Ele se desilude quanto se dá conta de que a vida tanto na caatinga, no agreste ou na Zona da Mata não tem diferença, e se ela existe, é mínima. Já no Recife, ouve uma conversa entre dois coveiros de como as pessoas são enterrados na capital e de que modo se diferenciam os enterros de ricos e pobres. Severino sabe que a vida do sertanejo e do retirante é sempre dura.
Se na terra árida e pedregosa da caatinga, a vida era dura, na cidade grande a dificuldade seguia. Não havia trabalho ou se havia, era o da pesca de caranguejos e siris nos mangues enlameados do Recife e nas moradias dos mocambos da periferia. O retirante decide dar fim a sua vida se afogando nas águas do Capibaribe, quando então se aproxima seu José, mestre carpina morador de um dos mocambos que tenta dissuadi-lo da tentativa de morte. Nesse ínterim, o nascimento de um bebê em um dos mocambos prende a atenção de todos da vizinhança: era o filho do compadre José que já nascia franzino e pequeno, mas muito comemorado como se fosse o nascimento do menino Jesus, Todos chegam com os mais humildes presentes, mas dando glória a essa nova vida que chega.
Todos querem ver e dar graças pela nova vida que surge em meio à pobreza e à miséria. Chegam os amigos da família e também duas ciganas que pressagiam o futuro da criança. Para uma das videntes, o menino terá o mesmo destino dos pais e dos outros meninos que vivem nos mocambos: fome e miséria, mangue e lama. Mas, para a outra cigana, o futuro do menino será um pouco diferente, ainda que difícil. Ele trocará o negro da lama pelo negro da graxa, trocará o mangue pela fabrica, os caranguejos pelas máquinas. Então, aproveitando a oportunidade, o carpina fala a Severino sobre a vida e sobre a morte. Fala que da morte ninguém pode fugir, que ela alcançará a todos, mas que não há nada mais magnífico que o espetáculo da vida, mesmo sabendo que pode haver uma linha muito tênue entre a morte e a vida severina.