segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A saga da família Terra



Ana Terra, de Érico Veríssimo, conta a saga da personagem Ana Terra e sua família: seu pai Maneco Terra, seus irmãos Antônio e Horacio e sua mãe D. Henriqueta, em uma estância que ficava em um lugar muito distante do povoado de Rio Pardo na província do Rio Grande, da segunda metade do século XVIII ao inicio do século XIX. A vida na estância era dura e de muito trabalho. Um dia, quando Ana  lavava roupa à beira de um pequeno regato, viu um homem ferido e caído. Ele era mestiço e se chamava Pedro Missioneiro, dizia ter servido no exercito com o coronel Rafael Pinto Bandeira contra os castelhanos. Demorou um pouco para que Pedro fosse aceito pela família Terra. Ele era tratado por Maneco Terra como um ser inferior. Aos poucos, Pedro foi cativando e conquistando a todos na estância, principalmente ao coração de Ana.
Com o tempo, a admiração de Ana por Pedro passou a desejo, e ela engravidou. Pela desonra à filha, Maneco Terra ordenou aos seus dois filhos que levassem o forasteiro, o matassem e o enterrassem bem longe da estância. Ana agora estava grávida de um filho sem pai, morto por seus irmãos a mando do seu próprio pai. Em uma noite de primavera, nasceu Pedro Terra, cujo umbigo foi cortado por dona Henriqueta com a velha tesoura de podar. Os anos passavam, Pedrinho foi crescendo. Maneco Terra comprou escravos. Horácio casou-se e foi morar em Rio Pardo, Antônio, também casado, continuou a morar na estância. Algum tempo depois ao sentir fortes dores e antes que pudesse ser socorrida, dona Henriqueta morre.
Mesmo com a morte de dona Henriqueta, a vida não podia parar. Como era seu sonho, Maneco Terra comprou algumas sementes de trigo e começou a semear a terra. A terra era boa e o trigo brotou. Bandidos castelhanos atacaram o rancho da família. Eulália, Pedrinho e Rosa se esconderam dentro do mato. Maneco Terra, Antônio, dois escravos e Ana Terra ficaram à espera dos castelhanos para defender o rancho. O encontro foi desastroso. Os bandidos destruíram e roubaram quase tudo que encontraram. Mataram os homens e abusaram de Ana. Da família Terra agora só restavam Ana, Pedrinho, Eulália e Rosa.
Mas, para Ana Terra a vontade de viver era maior que a desgraça que sofrera, decidiu acompanhar o carreteiro Marciano Bezerra e sua gente para as terras do cel. Ricardo Amaral, que ficava lá para as bandas do norte, subindo a serra. Depois de enterrar os mortos e colocar cruzes nos túmulos, Ana e os sobreviventes partiram para a serra em uma viagem que parecia não ter fim. Depois de muito viajar, chegaram às terras do cel. Ricardo Amaral, “o estancieiro mais rico da zona missioneira”.
O cel. Ricardo Amaral era rico e poderoso, dono das pastagens, das lavouras e de milhares de cabeças de gado. Fez parte do exercito da coroa portuguesa onde lutou centenas de batalhas. Era ao mesmo tempo chefe militar e juiz nos seus domínios. A estância do coronel Amaral se chamava Santa Fé, futuro povoado. Ali Ana Terra construiu seu rancho de taipa, e com a velha tesoura que ainda guardava, virou parteira. Muitas vezes sentada à frente do rancho ou diante da velha roca, passava o tempo pensando em quando chegou àquelas terras. Ali Pedrinho cresceu e se fez homem.
A guerra contra os castelhanos nunca terminava, sempre era hora de  lutar. Pedro Terra, já rapaz, partiu pela primeira vez para as batalhas. Depois de quase um ano de guerra e de ausência dos homens daquela estância, veio a noticia de que o cel. Ricardo Amaral tinha morrido, e que seus filhos estavam regressando com o que havia restando dos homens recrutados. Pedro retornou mais taciturno que antes.
Em 1803, Pedro Terra casou-se com Arminda Melo. Santa Fé virou povoado. No ano de 1804, nasceu o primeiro filho de Pedro, se chamava Juvenal. Dois anos depois, nasceu Bibiana, neta de Ana e filha de Pedro. Em 1811, a paz com os castelhanos foi rompida e as tropas da coroa e os homens do povoado de Santa Fé tiveram que marchar em direção a Banda Oriental. Pedro partiu outra vez para a guerra, e Ana Terra ficou pensando em tudo o que ela havia passado na vida. Pensava no pai, nos irmãos, na mãe, em Pedro Missioneiro, e que sempre que lhe acontecia algo importante estava ventando. Enquanto pensava, o minuano soprava forte lá fora.