segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cem Anos de Solidão entre o real e o imaginário


“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de lembrar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e cana-brava construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos”.

No seu extraordinário romance, Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez cria um mundo imaginário, utópico e mítico entre o real e o fantástico, em um povoado chamado Macondo desde sua fundação até sua destruição. Cem Anos de Solidão pode ser a história em sete gerações de uma família marcada pela solidão e pela fatalidade do seu destino. A saga da família dos Buendía será a repetição da tragédia dos anteriores, e também o tempo mítico de um povoado imaginário chamado Macondo onde cem anos reúne centenas de séculos.
Na primeira leitura do romance temos quatro etapas: a primeira etapa corresponde à fundação de Macondo; a segunda às guerras de independência; a terceira à intenção do capital estrangeiro nas plantações de banana; a quarta à revolução e as guerras civis. Em todas essas etapas o tempo histórico é cronológico e linear com a história de Macondo e da família Buendía contada por um autor-narrador, em outra dimensão temporal, contando fatos já ocorridos.
Na segunda leitura do romance, o tempo histórico e linear se alterna na narrativa com o tempo mítico, cíclico e renovável. Existe em Cem Anos de Solidão uma tensão entre a Utopia de fundação, a Epopéia destruidora e a imaginação mítica que relembra e recobra o tempo presente, simultâneo e eterno do mito.
A Utopia, U-topos lugar que não existe, é a representação inocente, sonho e desejo. Macondo como povoado imaginário e imaginado, terra inventada e desejada, a idade de ouro. José Arcádio Buendía e sua família peregrinaram pela selva, dando voltas até encontrar precisamente o lugar onde fundar a nova Arcádia, a terra prometida das origens e representação da inocência: “O mundo era tão recente, que muitas coisas careciam de nome, e para mencioná-las havia de assinalá-las como o dedo”.
A Epopéia, sonho negado pela necessidade histórica, começa quando José Arcádio Buendía abandona a adivinhação pela ciência, ao passar do conhecimento sagrado ao exercício hipotético, abre as portas à segunda parte do romance. A Epopéia é o transcurso no qual a fundação utópica de Macondo é negada pela necessidade ativa da história e do tempo cronológico.
“O Mito é sempre uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo”. O mito é uma verdade que esconde outra verdade. Cem anos de Solidão, espaço-tempo mítico, cronotopos, cujo caráter simultâneo e renovável; onde o passado se repete no presente e o futuro pode ser previsível porque de alguma maneira já ocorreu, em que tudo será esclarecido no final quando saberemos que toda a história de Macondo já estava escrita cem anos antes pelo cigano Melquíades, autor-narrador e personagem, que acompanhou Macondo em sua fundação. “O tempo em Macondo não existe, está congelado”.
Em Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez mostra como Cervantes “as fronteiras da realidade dentro de um livro e as fronteiras de um livro dentro da realidade”

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ponciá Vicêncio


O romance Ponciá Vicêncio da escritora Conceição Evaristo, conta a historia, as aventuras e as angustias de Ponciá Vicêncio desde sua infância quando ainda menina no povoado onde nasceu; suas brincadeiras como as bonecas de espiga de milho, o arco-íris e as primeiras e poucas lembranças que Ponciá tinha do seu avô, o “vô” Vicêncio.
Nesse romance de Evaristo encontramos a importância dos estreitos laços de família que une Ponciá Vicêncio, o irmão Luandi e sua mãe em um ato desesperado de encontros, desencontros e despedidas. Na trama muito bem traçada pela autora, os laços familiares são de muita importância, Ponciá e sua mãe que desde muito tempo trabalhavam o barro, elas faziam panelas, potes e bichinhos de barro, e Ponciá quando menina se encarregava de buscar a argila na margem do rio, para fazer os objetos que vendiam em outros lugares, o irmão que desde muito jovem trabalhava com o pai, geralmente um pouco ausente da presença da família por força do seu trabalho, dão a esse romance um sentido de pura saudade.
As lembranças do avô Vicêncio que andava com um braço escondido às costas, porque era cotó, e que ela própria saia exatamente com o mesmo jeito de andar como se fosse cotó como o avô Vicêncio. O romance nos conta a primeira sensação de prazer da nossa protagonista quando tinha apenas 11 anos e de uma maneira inteiramente sua.
Entre despedidas e sofrimento Conceição Evaristo nos convida a um maravilhoso passeio pelas lembranças de Ponciá onde vai traçando o destino e as angustias da protagonista e de seus familiares. A autora nos mostra uma personagem que era chegada a “olhar o vazio”. Ponciá via tudo, via o próprio vazio, “sentia-se como estivesse chamando outra pessoa. Um dia cansada de tudo e querendo viver uma vida melhor, Ponciá deixa o campo e vai fazer o seu destino, querendo inventar a sua própria vida.
Tudo em Ponciá Vicêncio é lembrança, lembrança da mãe, do irmão, do pai, já falecido, do funeral do avô e das cantigas que entoava junto com a mão na hora de amassar o barro, eram canções que os negros mais velhos cantavam para os mais jovens, lá na África e eram cantadas de uma maneira que não se entendia, talvez estivesse em crioulo. A pesar das lembranças e do ato de recordar havia em Ponciá um extremo vazio na sua cabeça, diziam que ela, como o avô Vicêncio gostava de olhar o vazio. Conceição Evaristo nos mostra todo o tempo que em Ponciá Vicêncio o processo de lembrar às vezes era um processo doloroso que chegava a ser uma total profunda ausência de si mesma.
As lembranças e recordações de Ponciá chegam a tocar os limites do mito, principalmente o mito da terra de origem. A velha Nêgua Kainda, que tudo via e tudo sabia, a herança do avô Vicêncio,  a visão da África e do sofrimento daqueles que de lá saíram, e pensam um dia regressar. Parece que tudo aquilo que viveu e todas as lembranças de Ponciá a levavam ao começo, ao tempo passado, ao tempo das origens, onde os negros eram felizes, e não sentiam medo, escravidão e sofrimento.
O romance “Ponciá Vicêncio mostra praticamente todo tempo, que a vida das personagens é marcada pela lembrança de um ante-feliz, de um passado inteiramente ligado ao presente por meio da memória. Nós leitores somos guiados por essas lembranças e memórias que nos conectam através da memória de Ponciá Vicncio com o passado. No romance, passado e presente são inteiramente ligados pelas memórias e pelas lembranças das personagens.
Ponciá Vicêncio enxergava a vida através da memória, lembrava varias vezes as mesmas historias como se fosse à primeira vez, como se fosse preciso completar as suas lembranças fragmentadas pelo vazio, sentia o mundo ao redor, mas não se situava nele, parecia dona das sombras, parecia  que estava em outro mundo, era um vazio, mas que era só dela. Ponciá precisa recuperar os pedaços do seu passado para viver o seu presente, é preciso saber reconstruir e recontar a história de nós mesmos, porque a historia é feita por nós.
As memórias e as lembranças de Ponciá são o elo entre o passado, o presente, o vazio e às vezes a ausência de si mesma; seria a ruptura, o hiato criado pelos sofrimentos sentidos por várias gerações de negros. O romance de Conceição Evaristo “Ponciá Vicêncio” mistura: idas e vindas, tristeza, frustrações, memórias, pobreza, miséria, lágrimas, amores, desilusão, todos amarrados pelas lembranças das personagens que vão prendendo o leitor até o fim.
“Ponciá Vicêncio é o elo, é a herança do passado e do presente e do que ainda há de vir.


Referência Bibliográfica:

Ponciá Vicêncio – 2° Ed. Evaristo, Conceição – Belo Horizonte: Mazza Edições, 2005. 132 pag.

Conceição Evaristo nasceu em 1946, em uma favela no Alto da avenida Afonso Pena, Belo Horizonte.

Biografia:

Romance

  • Ponciá Vicêncio (2003)
  • Becos da Memória (2006)

Poesia

  • Poemas da recordação e outros movimentos (2008)

Contos

  • Insubmissas lágrimas de mulheres (Nandyala, 2011)

Participações em antologias

  • Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990)
  • Contos Afros (Quilombhoje)
  • Contos do mar sem fim (Editora Pallas)
  • Questão de Pele (Língua Geral)
  • Schwarze prosa (Alemanha, 1993)
  • Moving beyond boundaries: international dimension of black women’s writing (1995)
  • Women righting – Afro-brazilian Women’s Short Fiction (Inglaterra, 2005)
  • Finally Us: contemporary black brazilian women writers (1995)
  • Callaloo, vols. 18 e 30 (1995, 2008)
  • Fourteen female voices from Brazil (EUA, 2002), Estados Unidos
  • Chimurenga People (África do Sul, 2007)
  • Brasil-África: como se o mar fosse mentira (Brasil/Angola, 2006)




sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Barroco Brasileiro: a poesia de Gregório de Matos




Soneto
Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido;
antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
(Gregório de Mattos -Do livro: "Livro dos Sonetos", LP&M Editores, 1996, RS)

O Barroco no Brasil

No século XVII, o Brasil presenciou o surgimento de uma literatura própia a partir dos escritos nascidos na colônia, quando as primeiras manifestações valorizando a terra surgiram.
A produção literária não foi favorecida nesse período, pois a disputa pelo poder no Brasil era evidente e chamava toda a atenção.
“No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botellho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano.”
“Na segunda metade do século XVIII, porém o ciclo do ouro já daria um susbstrato material à arquitetura, à escultura e à vida musical, de sorte que parece lícito falar de um Barroco brasileiro, e até mesmo mineiro, cujos exemplos  mais significaticos foram alguns trabalhos do Aleijadinho, de Manuel da Costa Ataíde e composições sacras de Lobo de Mesquita, Marcos Coelho e outros...” (BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira - São Paulo: Editora Cultrix, 1994.)

Para o escritor  e crítico Antonio Candido, a literatura que não apresenta esses elementos consolidados (obra-público-autor) não é capaz de formar um sistema e, por isso, não passaria de manifestação literária. Sendo assim, autores como Antônio Vieira e Gregório de Matos não são considerados pelo crítico como representantes da literatura brasileira, pois não contribuíram para sua formação ao não influenciarem outros autores e por escreverem em um período literário em que os três elementos constituintes capazes de instituírem um sistema literário ainda eram incipientes. (CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos. 6 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1981)

A Sociedade colonial
O Barroco aparece no Brasil  quando ya se haviam passado cerca de cem anos de presença colonizadora no território; a população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura nativa já lançara sementes.  O Barroco não foi, assim o veículo inaugural da cultura brasileira, mas floresceu ao longo da maior parte de sua curta historia de 500 anos, num período em que os residentes lutavam por estabelecer uma economia auto-sustentável, contra uma natureza selvagem e povos indígenas nem sempre amigáveis, até onde permitisse sua condição de colonia pesadamente explorada pela metrópole. O território conquistado se expandia em passos largos para o interior do continente, a população de origem lusa ainda mal enraizada no litoral estava em constante estado de alerta contra os ataques de indios pelo interior e piratas por mar, e nesta sociedade em trabalhos de fundação se instaurou a escravatura como base da força produtiva.

Principais característica do Barroco brasileiro

  • Culto exagerado da obra, sobrecarregando a poesia de figuras de linguagem.
  • Dualismo: onde o poeta se sente dividido e confuso por causa do dualismo de ideias.
  • Culto do Contraste, conflito entre o bem e o mal, o Ceú e Inferno, Deus e o diabo, o material e o espiritual, o pecado e o perdão...
  • Pessimismo, que era acarretado pela confusão causada pelo dualismo.
  • Literatura moralista, já que era usada pelos padres jesuítas para pregar a fé e a religião.
  • O Barroco revela a busca da novidade e da surpresa, o gosto da dificuldade.

“É de esperar que os recursos dessa visão de mundo sejam, na poesia, as figuras: sonoras (aliteração, assonância, eco, onomatopeia...), sintáticas (elipse, inversão, anacoluto, silepse...) e sobretudo semânticas (metáfora, metonímia, sinédoque, antítese, clímax...), enfim todos os processos que reorganizam a linguagem comum em função de uma nova realidade: a obra, o texto, a composição”.

Gregório de Matos: entre o céu e o inferno
Gregório de Matos guerra nasceu na Bahia em 1633 e morreu em Recife em 1696. Cultivou a poesia lírica, sátirica e religiosa. Sua obra só foi divulgada muito tempo depois de sua morte
As obras de Gregório de Matos, revelan nítidas influências dos poetas Barrocos espanhóis, sobretudo nas composições líricas. Seus textos sátiricos são muito interessantes, também pelo caráter documental que apresentam, tanto do ponto de vista sociológico quanto linguístico, pois neles o autor utilizou uma linguagem bem popular, onde são frequentes, inclusive, termos de baixo calão. Por sua crítica ferina e debochada da sociedad da época, recebeu o apelido de “Boca do Inferno”.
Gregório de Matos tinha  formação humanística – doutor in utroque jure – pela Universidade de Coimbra. “Mazelas e azares tangeram-no de Lisboa para Bahia quando já se abeirava dos cinquenta anos; más entre nós não perdeu, antes espicaçou o vezo de satirizar os desafetos pessoais e políticos, motivo de sua deportação para Angola de onde voltou, um ano antes de morrer, indo para o Recife que foi a sua última morada”.

Vida e obra

Gregório de Matos tinha um genio irrequieto e zombeteiro, desde cedo revelara viviacidade de inteligência e volubilidade de caráter. Eis porque quando contava com apenas 14 anos, seus pais resolveram mandar-lo para Coimbra: era para ali que, do Brasil, naquela época, as famílias ricas mandavam seus filhos quando lhes queriam dar uma instrução superior para, ao término de uns tantos anos, de lá voltarem com título científico que lhes garantissem, aqui, na sociedade brasileira, uma posição de relevo.
Gregório, porém, bacharel em direito, não quis regressar logo ao Brasil. De Coimbra passou para Lisboa, onde se formou advogado e, mais tarde, juiz. Ali permaneceu, mais ou menos, até os 50 anos. Só então voltou ao Brasil, um tanto o quanto desiludido da sociedade portuguesa, onde talvez por causa do seu genio independente e mordaz, sofreu muitas decepções e desgostos.
Chegado a Bahia, deu expansão à sua veia satírica, não poupava os poderosos, nem os “clientes”, nem os amigos, nem mesmo a própria esposa que, por esse motivo, certo dia, lhe abandonou. Por último, por atrair a ira do governador, este para se vingar dele, cujas sátiras, justas ou injustas, eram sempre aplaudidas pelo povo, deportou-o para Angola. Na Àfrica passou Gregório alguns anos de miséria, até que, arruinado de saúde, alcançou permissão de voltar ao Brasil, não mais para viver na Bahia, onde ainda, contra ele perdurava odios e resentimentos, mas para exercer em Pernambuco a sua profissão de advogado. Ali proibido de escrever sátiras e de continuar com seu genio maledicente e falaz, entregou-se de todo ao exercício de sua profissão, embora continuasse a viver como um boémio, sempre alegre, sempre zombeteiro, sempre despreocupado da vida.
Graças a tal mudança de meio e comportamento, o já velho poeta, após uma existência, tão agitada, conseguiu viver algum tempo tranquilamente, até que aos 73 anos de idade, a morte o alcançou em Recife, em 1696.
Gregorio de Matos Guerra foi enterrado com grandes honras na igreja dos Capuchinhos franceses de Nossa Senhora da Penha, em Pernambuco. As suas últimas poesias, escritas já com mão trémula, foram dois belos sonetos em que ele exprimia sincero arrependimento de todos os erros da sua vida.

A Crítica social

“A situação de intelectual branco não bastante privilegiado pelos maiores da terra ainda mais lhe pungia o amor-próprio e o levava a estiletar às cegas todas as classes da nova sociedade”:

"AOS SENHORES GOVERNADORES DO MUNDO EM SECO DA CIDADE DA BAHIA, E SEUS COSTUMES. "

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.


Araripe Jr., que observou Gregório por uma lente tainiana, sempre à procura da faculdade dominante do escritor, viu com nitidez o seu fundo ressentimento para as desordens da Bahia dos fins do século, más atribuiu-o a singularidades de caráter
No forte e bem travado soneto “Triste Bahia”, Gregório se identifica com a sua terra espoliada pelo negociante de fora, o “sagaz Brichote”, e impreca a Deus que faça tornar o velho tempo da austeridade e da contensão:


Triste Bahia
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
Do livro "História concisa da Literatura Brasileira", de Alfredo Bosi, Editora Cultrix, 1994, SP.
Afrânio Coutinho, em sua obra “Conceito de Literatura Brasileira”,defende o Barroco como movimento pertencente à literatura brasileira, identificando Gregório de Matos como o primeiro autor dessa literatura pelo seu sentimento nativista. Segundo o autor, "a brasilidade já se vinha constituindo, consolidando e libertando havia muito antes da fase de 1750 a 1836".
Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

Gregório de Matos é considerado o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, são obras ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão.
“Em toda sua poesia o achincalhe e a denuncia encorpam-se e movem-se à força de jogos sonoros, de rimas burlescas, de uma sintaxe apertada e ardida, de um léxico incisivo, quanto não retalhante; tudo ao que dá ao estilo de Gregório de Matos uma verve não igualada em toda a história da sátira brasileira posterior”.

BIBLIOGRAFIA:

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos. 6 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1981.

BOSI, Alfredo. Do Antigo Estado à Máquina Mercante. In: ______. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira - São Paulo: Editora Cultrix, 1994.

CAMPOS, Haroldo de. O Seqüestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: O caso Gregório de Mattos. Salvador: Fundação Casa de Jorge

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Barroco


O Barroco é conhecido como a “arte do conflito”, pois  o homem estava dividido entre dois valores diferentes – teocentrismo x antropocentrismo -. Em vista disso, o Barroco se divide em duas correntes (uma otimista e uma pessimista) Por causa dessa mudança na mentalidade, o homem entra numa grande depressão, pois ele não pode mais recorrer a Deus. Esse conflito vai se refletir nas artes da época, inclusive na literatura.

“Ora, o estilo barroco se enraizou com mais vigor e resistiu mais tempo nas esferas da Europa neolatina que sofreram o impacto vitorioso dos novos estados mercantis. É na estufa da nobreza e do clero espanhol, português e romano que se incuba a maneira barroco-jesuítica: trata-se de um mundo já em defensiva, organicamente preso à Contra-Reforma e ao Império filipino, e em luta contra as áreas liberais do Protestantismo e do racionalismo crescente na Inglaterra, na Holanda e na França.” (BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira - São Paulo: Editora Cultrix, 1994, pags 29)
“Se partimos da exegese do estilo barroco em termos de crise defensivada Europa pré-industrial, aristocrática e jesuítica, perante o avanço do racionalismo burguês, então entenderemos o quanto de angústia, de desejo de fuga e de ilimitado subjetivismo havia nessas formas.” (BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira - São Paulo: Editora Cultrix, 1994,pags 34)

O Barroco é entendido como um estilo de traços bem definido nas artes visuais e plásticas, bem como na literatura, correspondente, de modo geral, do século XVII.
A partir deste princípio, a termo costuma também ser compreendido de várias outras maneiras.
Como um estilo de vida e de arte, de pensamento de ação de divertimento, de governo, de prosa e de verso, até de atividade religiosa, que se seguiu ao renascentista. É tudo o que há de mais contrário à clareza, ao tipo linear; à nitidez de contornos da civilização no tempo do renascimento. “Sem que signifique uma repulsa daqueles ideais, mas uma tentativa de conciliação, de incorporação, de fusão (o fusionismo é o traço predominante no Barroco), do ideal, medieval, espiritual, supraterreno, com os novos valores que o Renascimento pôs em relevo: o humanismo, o gosto da arte, as satisfações mundanas e carnais. A tática ocorreu da Contra-Reforma, no intuido, consciente o insconsciente, de combater o moderno espírito, absorvendo-o no que tinha de mais aceitável. Dessa tática nasceu o Barroco, novo estilo de vida” (Estilos de época na literatura – Domício Proença Filho; pág. 140.)

Nosso Senhor Barroco (Barroco de Indias)

Para o escritor e crítico Carlos Fuentes, o Barroco ibero-americano é uma contração entre a Utopia perdida e a Épica perversa do Novo Mundo, na medida em que ambas, em sua postulação americana, descansam sobre a ideia do espaço, da forma de espaço e da liberação desse mesmo espaço. Ainda para Fuentes, baseado nos escritos do cubano José Lesama Lima, “Corpo e palavra do Barroco”, o Barroco é um dos nomes da fundação da América espanhola, se revela como um ato para sempre compartido entre Europa e América, ele preenche o vazio deixado pela conquista e destruição da Utopia e da Épica fundadoras do Novo Mundo.
Humberto Eco pensa o Barroco como um assalto contra as hierarquias privilegiadas, uma negação do definido, do estático. O Barroco é a forma dinâmica, da forma do novo mundo da ciência e do descobrimento, o mundo de Copérnico y de Cristóvão Colombo que, ao contrário de respeitar o centro das coisas essenciais e eternas, o desloca, multiplica os eixos do universo e procura uma visão indeterminada das coisas.
Desde então, em ambos lados do Atlântico, o Barroco será a arte do inacabado, a arte do difícil, a arte da instabilidade e a arte das fugacidades da fortuna, do tempo e da glória. A Espanha e a América Espanhola cantam no Barroco o mesmo canto do desencanto de Góngora”:

Mal te perdoarão a ti las horas;
as horas que limando estão os dias,
os dias que roendo estão os anos...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Novo Código Florestal versus desenvolvimento sustentável


    O Brasil retrocedeu pelo menos 40 anos em matéria ambiental, depois da vitória dos ruralistas e do agronegócio sobre o Código Florestal, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. O governo da presidente Dilma Roussef mostrou fraqueza, debilidade e nenhum jogo de cintura na votação do projeto ambiental no senado e na câmara. Com a proximidade da RIO+20 perdemos a grande oportunidade de mostrar ao mundo a melhor legislação ambiental do século XXI.
    A presidente Dilma decide se sanciona ou veta o texto da câmara, o projeto pode ser vetado parcial ou integralmente.  A nova lei do Código Florestal brasileiro terá que passar pela sanção da presidente. O texto que mais tinha agradado ao governo perdeu por 274 votos a 184. O relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG) foi aprovado, enquanto o texto mais simpático ao Palácio do Planalto foi derrotado na câmara.
    Há no projeto da câmara pontos divergentes e polêmicos, como aqueles que se referem a anistia aos produtores rurais que desmataram florestas nas proximidades de rios, e outros que se referem ao meio ambiente. Nestes, o atrito é sobre a diminuição do limite de recuperação da vegetação em áreas de preservação permanente ( APPs); além da retirada da proteção dos apicuns  e salgados (Apicuns e salgados são áreas situadas ao longo do litoral, que podem ser utilizadas para o cultivo de camarão) que pertencem ao ecossistema manguezal, e que pelo texto do relatório não fazem mais parte das APPs. A pressão agora está em cima dos Estados.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Fritjof Capra: modelos de desenvolvimento


 Fritjof Capra é austríaco de Viena e crítico da cultura americana.  É doutor em Física, cientista, ambientalista, educador e ativista. Livros: "O Tao da Física", "O Ponto da Mutação", "A Teia da Vida", "As Conexões Ocultas" e outros.  É como ambientalista e ativista que Fritjof Capra disse que não podemos esperar muito da reunião oficial da RIO + 20, Conferência do Clima das Nações Unidas. Para o ambientalista, a crise econômica no momento é protagonista nas discussões mundiais.
    Para Capra, o senado americano é o grande obstáculo de um possível acordo climático, porque é financiado pelas grandes empresas de combustíveis fósseis para barrar as discussões sobre as questões climáticas. Ainda para o ativista, a RIO +20 será um fórum para a sociedade civil, empresas e governos se sentarem à mesa.
     Em 2011 o número de guerras no mundo triplicou, é o maior número de conflitos desde 1945. São 20 guerras e 166 conflitos armados. Houve um aumento das Forças de Operações Especiais dos EUA, a chamada "Guerras nas Sombras", pelo menos em 60% das nações do mundo.
     Para o cientista, estas guerras estão diretamente ligadas aos recursos naturais, sobretudo às energias  e às políticas de combustível fóssil dos EUA, que têm um império global para extrair recursos naturais, simplesmente porque é política econômica americana acreditar que uma economia saudável é aquela que se baseia em um crescimento quantitativo ilimitado quando na verdade o crescimento tem que ser qualitativo, afirma o ambientalista.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Dom Pedro I como personagem de literatura

     "El Imperio eres tú", livro do espanhol Javier Moro, narra a trajetória politíca e pessoal de Dom Pedro I. 
      Javier Moro é escritor espanhol nascido em Madri em 1955, filho de pai espanhol e mãe francesa. Seu primeiro contato com o Brasil foi quando visitou o país logo depois da morte de Chico Mendes, onde escreveu o livro "Senderos de Libertad", que conta a história de Chico Mendes e do assassino contratado para matá-lo."O Império é você" foi ganhador do Premio Planeta 2011, e já vendeu 400 mil cópias na Espanha, um país que segundo o escritor,  sabe poco da história de Portugal a pesar de serem vizinhos. 
     O livro "O Império é você", conta a história de Dom Pedro I do Brasil e Dom Pedro IV de portugal, que segundo o autor, está entre dois personagens da literatura universal: Dom Quijote e Dom Juan. Dom Pedro I, foi um imperador entre dois mundos: Europa e América, entre duas nações: Portugal e Brasil, e entre duas mulheres: a imperatriz Leopoldina, e Domitila, a marquesa de Santos, além de ser rei de um país e imperador de outro. Um homem que sitiou a cidade do Porto por 19 meses, na querra contra seu irmão Miguel pelo trono de Portugal e que arriscou a própria vida para salvar um soldado inimigo ferido. 
     Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal ousou impor uma monarquia constitucionalista em uma época ainda absolutista. Homem infiel às mulheres, porém fiel aos seus ideais de libertade, agora é personagem de  romance.

domingo, 8 de abril de 2012

Desaparecidos

Cresceu o número de desaparecidos no Brasil. Em 2011 desapareceu 1 pessoa em  média a cada 11 minutos. Foram 141 pessoas por dia e cerca de 51.703 casos registrados no ano passado. A média de desaparecidos gira em torno de mais de 40 mil por ano. O Cadastro anual de desaparecidos não é atualizado a pelo menos 20 anos. 
No Brasil despreparado, onde a coisa não anda por força de vontade ou burocracia, desaparecimento é caso de policia, quando na verdade deveria ser também um problema social.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vinte anos depois

A Conferência das Nações Unidas, RIO +20 acontecerá na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 13 e 22 de junho. O tema principal será sobre Desenvolvimento Sustentável. São esperados para esse evento pelo menos 250 mil pessoas entre 50 credenciados e os não credenciados que podem chegar a cuatro ou cinco vezes esse número.
Se discutirá na RIO+20 entre outros assuntos: desenvolvimento sustentável, economia verde e governança global.