Ana Terra, de Érico Veríssimo, conta a saga da personagem
Ana Terra e sua família: seu pai Maneco Terra, seus irmãos Antônio e Horacio e
sua mãe D. Henriqueta, em uma estância que ficava em um lugar muito distante do
povoado de Rio Pardo na província do Rio Grande, da segunda metade do século
XVIII ao inicio do século XIX. A vida na estância era dura e de muito trabalho.
Um dia, quando Ana lavava roupa à beira
de um pequeno regato, viu um homem ferido e caído. Ele era mestiço e se chamava
Pedro Missioneiro, dizia ter servido no exercito com o coronel Rafael Pinto Bandeira
contra os castelhanos. Demorou um pouco para que Pedro fosse aceito pela
família Terra. Ele era tratado por Maneco Terra como um ser inferior. Aos
poucos, Pedro foi cativando e conquistando a todos na estância, principalmente
ao coração de Ana.
Com o tempo, a
admiração de Ana por Pedro passou a desejo, e ela engravidou. Pela desonra à
filha, Maneco Terra ordenou aos seus dois filhos que levassem o forasteiro, o
matassem e o enterrassem bem longe da estância. Ana agora estava grávida de um
filho sem pai, morto por seus irmãos a mando do seu próprio pai. Em uma noite
de primavera, nasceu Pedro Terra, cujo umbigo foi cortado por dona Henriqueta
com a velha tesoura de podar. Os anos passavam, Pedrinho foi crescendo. Maneco
Terra comprou escravos. Horácio casou-se e foi morar em Rio Pardo, Antônio, também
casado, continuou a morar na estância. Algum tempo depois ao sentir fortes
dores e antes que pudesse ser socorrida, dona Henriqueta morre.
Mesmo com a morte de
dona Henriqueta, a vida não podia parar. Como era seu sonho, Maneco Terra
comprou algumas sementes de trigo e começou a semear a terra. A terra era boa e
o trigo brotou. Bandidos castelhanos atacaram o rancho da família. Eulália,
Pedrinho e Rosa se esconderam dentro do mato. Maneco Terra, Antônio, dois
escravos e Ana Terra ficaram à espera dos castelhanos para defender o rancho. O
encontro foi desastroso. Os bandidos destruíram e roubaram quase tudo que
encontraram. Mataram os homens e abusaram de Ana. Da família Terra agora só
restavam Ana, Pedrinho, Eulália e Rosa.
Mas, para Ana Terra a
vontade de viver era maior que a desgraça que sofrera, decidiu acompanhar o
carreteiro Marciano Bezerra e sua gente para as terras do cel. Ricardo Amaral, que
ficava lá para as bandas do norte, subindo a serra. Depois de enterrar os
mortos e colocar cruzes nos túmulos, Ana e os sobreviventes partiram para a
serra em uma viagem que parecia não ter fim. Depois de muito viajar, chegaram
às terras do cel. Ricardo Amaral, “o estancieiro mais rico da zona
missioneira”.
O cel. Ricardo Amaral
era rico e poderoso, dono das pastagens, das lavouras e de milhares de cabeças
de gado. Fez parte do exercito da coroa portuguesa onde lutou centenas de
batalhas. Era ao mesmo tempo chefe militar e juiz nos seus domínios. A estância
do coronel Amaral se chamava Santa Fé, futuro povoado. Ali Ana Terra construiu
seu rancho de taipa, e com a velha tesoura que ainda guardava, virou parteira.
Muitas vezes sentada à frente do rancho ou diante da velha roca, passava o
tempo pensando em quando chegou àquelas terras. Ali Pedrinho cresceu e se fez
homem.
A guerra contra os
castelhanos nunca terminava, sempre era hora de lutar. Pedro Terra, já rapaz, partiu pela
primeira vez para as batalhas. Depois de quase um ano de guerra e de ausência
dos homens daquela estância, veio a noticia de que o cel. Ricardo Amaral tinha
morrido, e que seus filhos estavam regressando com o que havia restando dos
homens recrutados. Pedro retornou mais taciturno que antes.
Em 1803, Pedro Terra
casou-se com Arminda Melo. Santa Fé virou povoado. No ano de 1804, nasceu o
primeiro filho de Pedro, se chamava Juvenal. Dois anos depois, nasceu Bibiana,
neta de Ana e filha de Pedro. Em 1811, a paz com os castelhanos foi rompida e as
tropas da coroa e os homens do povoado de Santa Fé tiveram que marchar em
direção a Banda Oriental. Pedro partiu outra vez para a guerra, e Ana Terra
ficou pensando em tudo o que ela havia passado na vida. Pensava no pai, nos
irmãos, na mãe, em Pedro Missioneiro, e que sempre que lhe acontecia algo
importante estava ventando. Enquanto pensava, o minuano soprava forte lá fora.