O Carnaval é o reino utópico da liberdade, da
universalidade e da igualdade humana, onde as tensões não se rompem, se
conciliam. Na Idade Média era a segunda vida do povo. A visão carnavalesca do
mundo medieval seria a de uma segunda vida, um segundo mundo da cultura
popular, a paródia da vida humana.
Paródia é imitação burlesca, canto paralelo,
texto duplo que contém o texto parodiado do qual é a negação e a alternativa. A
outra maneira de ler o convencional.
O Carnaval desaparece com a distância entre os
homens, entre o que é sagrado e o que é profano. O Carnaval é a paródia do
cotidiano, que nega, resgata e renova a vida do individuo. Uma paródia que
reflete um mundo não oficial, rompendo momentaneamente com as relações de hierarquia,
privilégios, regras e tabus. É a ruptura do tempo cronológico e linear, um
regresso do homem ao tempo mítico das origens.
Diferente do espetáculo teatral, o Carnaval
ignora a distinção entre atores e espectadores. Estes não assistem ao Carnaval,
o vivem intensamente. Durante os dias de Carnaval no existe outra vida que não
seja a do próprio Carnaval. Ele está situado entre a arte e a vida. A natureza
mesma do Carnaval é que provisoriamente, o jogo se transforma em vida real.
O riso carnavalesco é irônico e ambivalente,
alegre e cheio de prazer, mas ao mesmo tempo cômico e satírico, um riso que
nega e afirma. O riso carnavalesco o sistema não prevê, diferente daquele que
entretém com função catártica de alivio das tensões – algo já previsto e
esperado como no teatro.
O riso do povo, ambíguo, jocoso e às vezes
destrutivo, desempenha na prática carnavalesca um papel primordial. O riso
popular carnavalesco não e só satírico, ou seja, o riso que nega só para
divertir, ele é ambivalente, pois ressuscita e restabelece.
A linguagem carnavalesca se caracteriza pela
lógica original ao contrário. No seu discurso, o carnaval é dialógico,
polifônico e intertextual. São vários textos – vozes – superpostos, sendo
difícil encontrar uma identidade entre eles.
Bakhtin, nos seus estudos sobre a prática social
do Carnaval, estabelece que a cultura carnavalesca é um aspecto fundamental da
cultura cômica popular. O discurso carnavalesco, dialógico e polifônico, introduz
sempre uma subversão de valores.
Segundo o autor, o Carnaval sempre influiu na literatura.
As relações do Carnaval com a atividade literária são definidas mediante o conceito
de transposição do Carnaval à linguagem da literatura e sua influência é
determinante em relação a essa.
Como o Carnaval, a carnavalização se identifica
como uma inversão de valores, subversão cultural que desmistifica o sagrado,
representando o mundo ao contrário. A carnavalização confronta e contesta,
desconstrói e constrói o mundo.