sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Carnaval, carnavalização e literatura

     O Carnaval é o reino utópico da liberdade, da universalidade e da igualdade humana, onde as tensões não se rompem, se conciliam. Na Idade Média era a segunda vida do povo. A visão carnavalesca do mundo medieval seria a de uma segunda vida, um segundo mundo da cultura popular, a paródia da vida humana.

     Paródia é imitação burlesca, canto paralelo, texto duplo que contém o texto parodiado do qual é a negação e a alternativa. A outra maneira de ler o convencional.

     O Carnaval desaparece com a distância entre os homens, entre o que é sagrado e o que é profano. O Carnaval é a paródia do cotidiano, que nega, resgata e renova a vida do individuo. Uma paródia que reflete um mundo não oficial, rompendo momentaneamente com as relações de hierarquia, privilégios, regras e tabus. É a ruptura do tempo cronológico e linear, um regresso do homem ao tempo mítico das origens.

   Diferente do espetáculo teatral, o Carnaval ignora a distinção entre atores e espectadores. Estes não assistem ao Carnaval, o vivem intensamente. Durante os dias de Carnaval no existe outra vida que não seja a do próprio Carnaval. Ele está situado entre a arte e a vida. A natureza mesma do Carnaval é que provisoriamente, o jogo se transforma em vida real.

      O riso carnavalesco é irônico e ambivalente, alegre e cheio de prazer, mas ao mesmo tempo cômico e satírico, um riso que nega e afirma. O riso carnavalesco o sistema não prevê, diferente daquele que entretém com função catártica de alivio das tensões – algo já previsto e esperado como no teatro.

   O riso do povo, ambíguo, jocoso e às vezes destrutivo, desempenha na prática carnavalesca um papel primordial. O riso popular carnavalesco não e só satírico, ou seja, o riso que nega só para divertir, ele é ambivalente, pois  ressuscita e restabelece.

   A linguagem carnavalesca se caracteriza pela lógica original ao contrário. No seu discurso, o carnaval é dialógico, polifônico e intertextual. São vários textos – vozes – superpostos, sendo difícil encontrar uma identidade entre eles.

     Bakhtin, nos seus estudos sobre a prática social do Carnaval, estabelece que a cultura carnavalesca é um aspecto fundamental da cultura cômica popular. O discurso carnavalesco, dialógico e polifônico, introduz sempre uma subversão de valores.

     Segundo o autor, o Carnaval sempre influiu na literatura. As relações do Carnaval com a atividade literária são definidas mediante o conceito de transposição do Carnaval à linguagem da literatura e sua influência é determinante em relação a essa.

  Como o Carnaval, a carnavalização se identifica como uma inversão de valores, subversão cultural que desmistifica o sagrado, representando o mundo ao contrário. A carnavalização confronta e contesta, desconstrói e constrói o mundo.


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