O herói mitológico: o destino, a honra, a alma - (Primeira parte)
O conceito de herói está associado
ao de aventura que é a representação da busca do sentido da vida com todas as
suas consequências: perigo, ajuda, lutas, amores, perdas, conquistas, abandono,
encontros, mortes, retorno. A imagem do herói data de um passado imemorial do que se tem
referência através de sua vida, suas façanhas e suas desventuras. O tempo mítico
é medido pelos ciclos que iniciam e fecham batalhas heroicas. Não existe tempo cronológico, não existem datas, somente uma essência da memória expandida,
narrada e repetida em função das difíceis tarefas e ações laboriosas feitas por ele.
Segundo
López Eire em seu livro La Mitologia de
los héroes y la Cronologia, "os mitos gregos dos heróis identificam aos
diferentes povos helênicos que os narram, os conceituam como grupo, político
social, os diferenciam dos outros, lhes concede um prestigio que tenta ser
exteriormente reconhecido e aceito".
Para
Hesíodo, autor de Teogonia, os heróis
fazem parte da “Quarta Idade” – Idade dos Heróis. Criados por Zeus como "uma
raça mais justa e mais brava, raça divina de heróis que se denominam
semideuses".
O destino (Moira) final do herói é segundo os gregos, definitivamente “fiado”
para cada um. O destino é "fixo e não
sujeito a mudanças, não podendo ser alterado". Mas para o poeta Homero, o destino se confunde com a vontade dos
deuses, principalmente Zeus. "O poderoso deus olímpico em varias passagens da Ilíada dá a entender que pode modificar a moira". Às vezes, seu poder se
confunde com o próprio destino.
Os gregos
do tempo de Homero, sabedores de que o além-túmulo que lhes era oferecido eram na verdade a escuridão e o vazio, fizeram desta vida, heroica ou miserável, a sua última
oportunidade, buscando estende-la através da honra (Timé). Esta é a razão do heroísmo: aprender a colocar a vida em um
plano muito superior para sacrificá-la à honra, que há de eternizá-la. Aquiles
é o exemplo perfeito da imagem de uma humanidade condenada pelos desígnios dos deuses, teve a sua
morte profetizada pelos oráculos. O herói, para elevar sua vida no
presente e eternizar a memória no futuro, apressou a morte indo à guerra de Tróia
para cobrir-se de honra e de glória.
Em Tróia
quando Aquiles foi ofendido em sua honra pelo rei Agamenon, sua mãe Tétis
implora a Zeus que restitua a honra do herói:
“Se entre imortais, Senhor, lhe fui
profícua por dito e ação, preenche-me este voto: orna meu filho a vida, já que
é breve. Glorifica-o, ó pai celeste, e que de honras o acumulem os Dânaos” (Il.,
I, 15)
O rei, chefe da tribo, do clã ou da família, torna-se após
a morte o que ele foi em vida, o senhor, quer dizer, o “herói”, o protetor dos
que lhe habitam o território, o reino; seu culto era na verdade uma religião
de família e do grupo havendo a necessidade de uma descendência para
continuá-lo e transmiti-lo. Sem isso, o culto à alma do morto, só sobreviveriam no mito. Com a morte do corpo, a alma se torna uma
imagem que reproduz os traços exatos do morto nos seus últimos momentos.